segunda-feira, 18 de julho de 2011

O MAL DAS TREVAS

Normalmente o leigo não sabe o que é um sinal de rádio freqüência, ou o que é onda eletromagnética, até mesmo, o porquê do sinal se propagar no ar. Sabem por quê? Porque isso é um fenômeno e fenômeno é aquilo que a gente aceita sem que ninguém questione, foram os gregos antigos que nos legaram esse conceito, esse jeito passivo de conviver com o inexplicável é inato em nós.
Existem fenômenos que observamos com facilidade, como o fenômeno da água evaporar ou virar sólida, esses tiramos de letra. Existem fenômenos que nos atingem sem conseguirmos mensurá-lo direito, como o fenômeno de um corpo caindo no ar, para esses adotamos respostas convenientes. Porem existem fenômenos que nos passam totalmente por despercebidos, normalmente associamos esses com milagres ou magia.
Não sei quem primeiro falou a palavra “phainómenon”, mas de lá para cá todos concordaram que queria dizer “a quilo que parece” daí para frente ficou fácil. Tudo resolvido, basta classificar como fenômeno e aceitarmos como normal o fato de algo maravilhoso acontecer. Nós anteneiros estamos cercados de fenômenos físicos, cercados de coisas que parece, uma delas é o sinal numa antena sendo arremessado no ar.
Muitas vezes ouço algum anteneiro dizendo para mim:
-Mesmo estando a mil metros da antena com visada direta não consigo receber nenhum sinal, o que pode ser isso? Seria a antena? O rádio eu tenho certeza que está bom, ele é novo. Os cabos funcionam bem quando os texto em em outra instalação e a antena também funciona bem noutro lugar, são só mil metros com visada direta e não funciona.
Fico então com o eco daquela observação de fenômeno nos meus pensamentos, o que seria possível responder? Diagnóstico á distancia é leviandade, não dizer nada é uma descortesia. Recosto-me na cadeira e meus pensamentos fazem cambalhotas.
Se uma antena A com todas as condições para receber o sinal de uma antena B não recebe, é uma situação igual a alguém dizer: “Eu não vou e não fico”. Pode isso? Isso não é fenômeno, isso é como sentir saudades de alguém que não se conheceu, isso é impossível.
No entanto não se deve duvidar que um fenômeno desconhecido esteja pautando aquela situação descrita. Quem sabe é possível, influenciado por alguém, mesmo que por um breve momento os fenômenos passem a se comportar fora do esperado?
Acredito que o milagre e a mágica são o fenômeno que ainda não foi compreendido, mas que um dia será, esses dois confunde a nossa cabeça de pessoas comuns.
Os crentes precisam do milagre para justificar a entidade divina. Santo que não faz milagres não tem fieis. Jesus durante uma festa de casamento fez o milagre de transformar água em vinho, hoje é fácil fazer isso. Certa feita, com apenas cinco pães e cinco peixes, Jesus alimentou uma multidão multiplicando os pães e os peixes, hoje não se faz isso, mas será que no futuro não se fará? A física moderna tem sua atenção mergulhada no intimo da matéria onde ela já observou que partículas podem surgir do nada, assim como os pães de Jesus. Mesmo quem não é católico e que por ventura consiga criar partículas num laboratório tem que admitir que Jesus ao fazer a multiplicação dos pães á dois mil anos atrás fez por merecer a fé dos seus fieis.
Aquele anteneiro comentado antes, para se igualar no feito com Jesus, teria que fazer um enlace entre a terra e um planeta da constelação de Andrômeda sem usar antenas. Vamos lá.
A linha do tempo onde estão às realizações intelectuais humanas não é uma sucessão de transformações de milagres em fenômenos? A física moderna, para se substanciar, encontrou um meio termo, algo intermediário entre fenômeno e milagre e chamou de “singularidade”.
Singularidade seria como o sinal que saiu daquela antena A e não chegou naquela antena B, é como um corpo pesado que é solto no espaço e não cai, é um imã de um só pólo, é um fenômeno que aparentemente não obedece às leis físicas, parecendo com os buracos negros no espaço. Ou então, o que aconteceu no túnel acelerador de partículas.
Este aparelho foi construído na Franca, é um tubo comprido onde fizeram vácuos dentro. De um lado emitiram aceleradamente uma sub-partículas atômica, do outro lado em sentido contrário emitiram também outra partícula igual.
Quando as duas partículas colidiram no centro do tubo, apareceram quatro partículas dentro do cano. De onde teria saído as outras duas? Multiplicação das partículas? Ora com uma tecnologia mais avançada, um dia também poderemos multiplicar os pães. Coisa de tempo.
Existem histórias fáceis que acontecem ou acontecerem na linha do tempo e que servem para entendermos as coisas difíceis, por isso vou contar uma que aconteceu com um antepassado épico.
O meu nobre medieval estava na sua cidade dentro do seu castelo á noite com os amigos, tomando um vinho na frente da lareira que iluminava o salão do castelo com as labaredas do fogo crepitante e alguns archotes nas paredes. A lenha úmida que gerava o fogo era de nós de pinho e produzia uma fumaça que enevoava o ambiente. La fora uma tempestade se armava e se aproximava com a aparência assustadora da violência.
O vento seco assobiava quando açoitava as torres do castelo correndo pelas pedras dos muros do outro lado do fosso. Um felino procurava abrigo enquanto o vento lambia seus pelos pretos de gato sinistro. O atrito provocado entre o vento e o pelo negro do bichano, carregava eletrostaticamente o felino como se este fosse um capacitor.
Presunçosamente meu ancestral gabava-se para os amigos das batalhas que a família havia travado e vencido, fazendo isso, apontava uma a uma das armaduras que em circulo decoravam o grande salão.
Uma dessas armaduras pertencera ao sanguinário Mal das Trevas. Este cavaleiro recebera este alcunha por ter o habito de atacar seus inimigos à noite. O Mal das Trevas quando atacava os condados visinhos, alem dos inimigos, matava crianças e velhos, não tinha nenhuma piedade. Dizem que quando foi capturado teve como castigo, nunca mais sair de dentro da armadura. Rebitaram as articulações do ferro e deixaram o Mal das trevas lá dentro até a morte. Alguns dizem que dentro da armadura que ali estava adornando o recinto, ainda esta os restos mortais do ancestral maldito. Dizia a criadagem do castelo que durante algumas madrugadas ouvia-se gemidos e sons de espadas se cruzando.
Este assunto estava no auge quando o gato preto pulou para dentro do salão e passou pela armadura do Mal das Trevas. Naquela época, para uma armadura ficar em pé, usava-se uma estaca fincada no chão para sustentá-la e desta forma, a armadura ficava eletricamente aterrada. O gato preto ao passar por ela descarregou a energia estática que estava armazenada nos seus pelos contra a armadura do Mal das Trevas.
Uma chispa elétrica pulou do gato preto para o Mal, um enorme miado encheu de susto os corações de todos dentro do salão. Todas as cabeças viraram para onde vinha o som e para acentuar o efeito, um raio caiu lá fora com um enorme trovão, bem naquele exato momento.
Um gato preto soltando fogo contra a armadura de ferro do Mal das Trevas criando uma coroa luminosa provocada pela fumaça que circundava a armadura era demais, não havia dúvidas. O Mal das Trevas estava sendo ressuscitado pelo demônio.
O ancestral medieval e seus amigos fazem o sinal da cruz, pois não havia duvidas que o Mal das Trevas estava vivo dentro da armadura querendo vingança. Ajoelharam-se e pediram a Deus por proteção através de um milagre. Foram atendidos na suplica. O vento forte desviou a tempestade para outro lugar distante, o gato preto sumiu por uma janela aberta e o Mal das Trevas não saiu da armadura.
No outro dia sob a luz do sol, todos comentam, foi um milagre que nos salvou, Deus nos atendeu. Se não fosse por um milagre o diabo teria ressuscitado o Mal das Trevas e nos arrastado para as profundezas do fogo do inferno.
Não acho que Deus não atende uma suplica só acho que em alguns casos podemos confundir milagre com fenômeno. Assim como podemos supor que se uma antena A com todas as condições de funcionamento não se comunica com uma antena B a culpa só pode ser do Mal das Trevas, jamais seria milagre, fenômeno ou singularidade.



FIM

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