sexta-feira, 17 de junho de 2011

BELONI

BELONI


Eu era um estudante de engenharia na Universidade Federal do Paraná em 1.969 quando resolvi participar do Projeto Rondon. Alguns colegas criticavam dizendo que aquele projeto tinha a nociva intenção militar de afastar os estudantes politizados dos contextos políticos no Brasil. Eu era um ativista, mas também estava cansado e aquela oportunidade tinha o sabor de ferias. Inscrevi-me, fui selecionado e parti.
As hélices do avião do CAN (Correio Aéreo Nacional) impulsionavam para frente um possante Douglas-DC-3. Dentro deste avião ia eu e mais 35 alunos dos mais diversos cursos superiores, todos incumbidos da proposta de realizar atividades que promovessem a inteiração entre os universitários e as comunidades do interior do Brasil.
Descemos em Belo Horizonte e nos hospedaram no colégio militar. Feita e distribuição das tarefas, fomos transportados em grupos para diversos destinos, o meu e de mais onze colegas foi para uma vila chamada Buritis. Hoje Buritis e um município do Estado de Minas Gerais com uma população enorme, mas naquela época era pequena, pobre, abandonada e com os índices sociais alarmantes.
Ficamos hospedados num grande galpão cujo teto era feito com a folha da palmeira buritis que emprestara o nome á vila.
Meu trabalho nesta localidade era instalar um grupo motor gerador de 10 MW. Este grupo havia sido doado pela Aliança Para o Progresso e se encontrava no local. Com o grupo gerador ligado, aqueles habitantes iriam conhecer luz elétrica.
Era bonito até de ver o equipamento, o grupo estava encaixotado com todo o material necessário para ser instalado, incluíam no material todas as ferramentas, instrumentos de ajuste, cimento, areia e brita que seria usada nas fundações e já estavam devidamente embalados nas proporções necessárias. Pode-se dizer que a única coisa que faltava para aquela gente conhecer a luz elétrica era um pouco do meu suor. Arregacei as magas.
O subsolo de Buritis era macio e fácil de cavar, mas para fazer os seis buracos onde seria derramado o concreto da fundação fui buscar ajuda na mão de obra local, foi ai que conheci o Pedro do Brasil Amargo e o Paulo do Brasil Sertão.
Conheci-os num boteco tomando um trago no final da tarde. Debrucei-me no balcão e sem me dirigir a ninguém falei alto.
-Preciso de dois para me ajudar, senão não consigo fazer o serviço.
-Pois um tá aqui mesmo.
Quem dissera aquilo fora um jovem, dono de uma voz grossa e de um corpo truncado e forte. Eu ia começar a falar quando do outro lado do salão ouvi:
-Aqui o dotor não vai falar duas vezes. O outro sou eu.
O Outro era um homem de cabelos brancos, mas com o aspecto de pessoa acostumada ao trabalho pesado. Convidei-os a beber comigo para nos conhecer melhor. Depois de umas duas horas de conversa eu já gostava dos dois. Falei para eles do meu nome, mas nunca consegui que eles não me chamassem de dotor. Por outro lado, tive que acatar o nome pelo qual eram acostumados a atender naquele lugar. O Mais jovem era o Amargo e o mais velho o Sertão.
Como a luz ia embora com a tardinha, nos retiramos cedo do boteco e marcamos para começar a trabalhar no outro dia bem cedo.
Amargo e Sertão pareciam serem feitos de aço. Seus braços fortes cavaram os seis buracos e os uniram com uma valeta, cortaram as taboas fazendo formas, colocaram a ferragem e as puseram dentro das valetas. Depois, viraram o cimento com areia, brita e água do rio enchendo as formas de concreto. Tudo isso num dia. Era curioso ver e ouvir os dois trabalhando, o riso não os abandonava nunca. Apesar do lugar pequeno que era Buritis, os dois eram cheios de novidades para contar um para o outro. Falavam da parteira que estava ficando pouca para atender a vila. Falavam de um amigo comum que fora mordido por cobra e estava com a perna preta. Acho que quando um começava a contar algo o outro fingia não saber do enredo e prestava toda a atenção para que o assunto se desenrolasse. Um era o entretenimento do outro.
Foi no final da tarde, quando Amargo alisava o serviço com a pá de pedreiro que o riso parou. Sem nenhuma expressão de alegria Sertão disse.
-Alguém devia matar o barqueiro. Ele ainda tem uma menina, eu a conheci na venda quando ele veio fazer um rancho. E esta menina esta no tempo de venda como ele diz, o nome dela é Beloni.
Achei aquele assunto estranho, mas resolvi não questionar, parecia ser algo muito ruim que aborrecia muito á Amargo e Sertão. Teríamos de esperar uma semana para que o concreto curasse e suportasse o peso do grupo gerador, só então recomeçaria a trabalhar de novo. Tive uma idéia:
-O Rio Urucuiá fica perto daqui, o que vocês acham de irmos fazer uma pescaria amanhã? Os dois pareciam que estavam esperando o convite, concordaram imediatamente e combinamos sair ás sete da manhã.
Seguimos por uma trilha com o Amargo e o Sertão sempre conversando e rindo. Muitas vezes eu entrava no clima deles e trocava risadas coletivas. De repente, numa curva da trilha os dois ficaram mudos. Uma cara com expressão feroz se desenhou nos rostos amigos. Estancamos o passo e foi Sertão quem falou.
-Aquela é a casa do barqueiro. O homem que precisa ser matado.
-Mas por quê?
-Porque ele vende as filhas para os garimpeiros que as prostituem ou as matam na beira do Urucuiá depois de se servirem das coitadas. Já encontramos o corpo de duas filhas dele.
-A tristeza deles passou para dentro de mim e no meu rosto também se desenhou a ferocidade.
-Vou lá.
-O dotor tem certeza? Pode ser incomodação.
-Não vou me incomodar. Passei uma capoeira pulei por cima de duas valas, estiquei as pernas num prado e cheguei à frente do casebre do barqueiro. Antes que a porta se abrisse e um sujeito de péssima aparência aparecesse ainda vi na praia uma balsa e duas canoas de aluguel.
-Ta querendo alguma coisa? A voz saíra de uma boca sem dentes num rosto coberto por uma barba suja.
-Me disseram que aqui tem menina para vender!
-O barqueiro me olhou como se estivesse me avaliando e depois de algum tempo falou:
-São quinhentos cruzeiros e não aceito reclamação.
-Posso ver a menina?
-Faz diferença? O barqueiro me dirigiu um olhar malicioso e continuou: Tem coisa melhor por aqui?
-Muito bem, vou pagar. Retirei do bolso a quantia e estendi para o barqueiro, Este pegou o dinheiro, contou lentamente e gritou sem virar a cabeça.
- Beloni vem cá.
Da porta saiu uma menina de uns onze anos de cabelos sujos e compridos. Veio caminhando até perto do barqueiro e parou de cabeça baixa.
-Este homem aqui agora é teu dono, vai com ele. Dito isso virou as costas e entrou na velha casa. Enquanto a porta ainda estava aberta tive a impressão de ouvir um choro de mulher lá dentro, a porta bateu e eu fiquei frente a frente com a menina que me olhava como se estivesse olhando para a Morte.
-Como é teu nome?
-Beloni.
-Beloni de que?
-Só.
-Muitas vezes o melhor caminho é aquele que não conseguimos enxergar. Falei isso para ela e fiquei pensando se ela me entendia. Beloni que não tinha sobrenome permaneceu em silencio, dei alguns passos e estendi a mão para ela. Lentamente amenina foi erguendo o braço e me deu a mão. Começamos a caminhar em direção aos meus amigos.
Quando Beloni viu o Amargo e o Sertão virou-se para traz em direção ao casebre com um pedido de socorro no olhar, mas a porta e as janelas fechadas pareciam terem virado as costa na vida para a menina.
Na beira do rio ficamos os quatro olhando as águas correrem. Ninguém falou ou cogitou na pescaria. Sertão com uma voz profunda olhou para mim e disse: Vamos voltar. Não era um convite nem uma ardem, era a vontade de todos dita em voz alta. Tomamos o rumo do acampamento.
No caminho de volta começamos a brincar com a menina que se mantinha muito quieta. Foi amargo quem começou.
-Conheço duas arvores que macaco não sobe. Qual é perguntei.
-Aquela que não nasceu e a que tem espinho.
Os três caímos na risada, mas Beloni séria só nos olhava. Foi a vês do Sertão.
-Conheço uma arvore que nasce para baixo. Qual é perguntei.
-É aquela que nasce do outro lado da terra.
Três risadas e um silêncio.
Era a minha vez de tentar distrair a Beloni. Parei no final do arvoredo onde uma clareira se espalhava até a vila Buritis. Ajoelhei do lado da menina e com ar sério disse para ela:
Estas vendo ali no meio do nosso caminho uma árvore de folhas coloridas?
Beloni sacudiu a cabeça num sim.
Ali no meio, haviam três árvores. Uma jacarandá branca, uma jacarandá rosa e aquela jacarandá de espinho. A jacarandá branca foi cortada e transformada numa casa onde mora hoje uma família muito feliz. A jacarandá rosa foi cortada e transformada em móveis para uma outra casa. Aquela jacarandá de espinho vai ser arrancada inteirinha com todo o carinho e plantada no pátio de outra casa onde nas tardes quentes de sol ela abrigará com carinho a família na sua sombra. Não houve risos, mas a minha historia inventada, fez com que a Beloni falasse pela primeira vez.
-Meu pai não gosta de arvores. Eu não disse nada, mas reconhecia a dor dentro da menina. Amargo para descontrai saiu-se com essa
-Aqui nesta vila todos têm um pai e muitas mães em cada casa.
- Explica isso para mim disse o Sertão.
-Bem, todos têm a mãe que gerou, mas temos também em casa a maesena, a maedolate, maedagua, maedrugada.
Finalmente quase na chegada quatro risos no ar anunciavam nossa presença para os colegas que sentados em torno de uma grande mesa dentro do galpão se preparavam para o jantar.
Acho que a Beloni tocou no coração de todos os estudantes. Primeiro pela historia que eu contara, de como uma pescaria tinha se transformado num resgate. Segundo porque a Beloni tinha um jeito meigo nos gestos que substituíam mil palavras, era como se ela falasse com o corpo. Seus negros olhos fitavam com tanta forca que pareciam encantar. Seus maneirismos eram muito peculiar, trejeitos e gestos com o auxilio de poucas palavras se transformavam em perguntas ou resposta. Beloni tinha um encanto de fada e se notava mais quando ela ria. Seu riso era tão lindo que qualquer um ria junto mesmo sem saber o motivo da risada. Beloni começou a ser amada por todos os alunos aventureiros do Projeto Rondon daquele acampamento.
As estudantes adotaram a Beloni, penteavam seu cabelo crespo mantendo o comprimento. Vestiam a menina com vestidos coloridos. Calçaram a Beloni com sapato de um pequeno salto que deu um porte maior de mocinha. Lembrei da brincadeira do Amargo quando disse que em Buritis todos tinham muitas mães.
Os dias foram passando. Eu e meus companheiros colocamos o grupo gerador sobre os parafusos que haviam ficado de espera no concreto, montei o quadro de comando elétrico, puxamos a fiação até o galpão onde instalamos tomadas e lâmpadas.
Trabalhávamos sem pressa e atentos a tudo o que acontecia na vila. De longe víamos o trabalho dos outros colegas dentro do galpão e lá dentro a Beloni sempre envolta com alguém. No final da tarde invariavelmente íamos para o boteco. Do pequeno prédio onde montamos o grupo gerador até o Boteco, tínhamos que atravessar um grande pátio de terra vermelha e todos os dias isso era feito na mira dos olhos da Beloni que corria para a porta do galpão e em pé ficava nos olhando como se assistisse a um desfile. Muitas vezes abanávamos para ela, coisa que ela nunca correspondia, mas até o ultimo dia que lá estivemos o ritual foi o mesmo. Acho mesmo e não sei por que, nunca mais conversei com a menina Beloni.
O dia da volta se aproximou, nosso projeto estava chegando ao fim. Os alunos agrônomos estavam exultantes com os conhecimentos que havia trocado com os colonos de lá, tinham ensinado técnicas de plantio e aprendido a fazer previsões do tempo olhando para as flores. Os alunos da saúde muito tinham curado doença e extraído dentes, mas em troca receberam o conhecimento de uma farmácia de ervas silvestres incrível. Os alunos da Assistência Social melhoraram relacionamentos familiares, abrandaram brigas entre irmãos e organizaram um clube de idosos. Em contra partida coletaram material para um doutorado sobre o homem do sertão, mas principalmente compreenderam que a doçura humana pode existir mesmo no meio da maior pobreza. Mais tarde, eu também teria a minha grande lição.
O grupo gerador foi ligado numa noite e iluminou para sempre o pátio da praça de Buritis. Eu tinha ensinado para eles o que era a energia elétrica, e aprendido com o Amargo e com o Sertão a trabalhar com alegria.
De uma forma estranha o Brasil havia entrado em nós e feito trocas que em minha opinião havia sido nós os doutores quem saíra ganhando.
O ônibus parado na praça com o motor ligado esperava pelo nosso embarque. Uma pequena multidão de amigos cercava os viajantes que trocavam abraços beijos e recomendações nas despedidas. Da porta do ônibus em pé no segundo degrau Beloni me olhava, ela iria com nós para Curitiba, o pessoal da Assistência Social havia conseguido licença para levar a menina.
Sobre a terra vermelha, formando um triangulo humano eu e meus amigos banhados por um olhar de menina íamos nos despedir para sempre. Foi Amargo quem começou.
-Meu pai sempre me disse que só os outros poderiam me fazer menos amargo, dependeria de mim. Por isso eu me ofereci no boteco para ajudar o dotor. Valeu a pena.
-A única coisa que tu tens de amargo é o nome, tu adoças tudo aquilo que tocas, deves ter muitos amigos. Obrigado pelo apoio e por me ensinares afazer do riso a melhor ferramenta de trabalho. Voltei o olhar para o Sertão para falar, mas foi ele quem tomou a palavra.
-Os animais da mata me ensinaram que solidão não existe. Achei o dotor muito sozinho no balcão do boteco por isso me ofereci também. Valeu à pena.
-Ter passado esses dias na tua companhia foi como estar conectado com o todo este povo. Obrigado por me ensinar a olhar a vida.
Com dois passos cada um, achegamos a distancia de um abraço prolongado e carinhoso, depois, lentamente rumei para o ônibus e sentei no fundo perto da janela. O ônibus fez um leve movimento para frente e da rua eu ouvi o Sertão falar.
-Tem duas coisas que o dotor não compreendeu.
-Interessadíssimo me debrucei na janela e fiquei olhando para eles á espera da revelação que viria.
-Primeiro, disse o Amargo, assim como vocês fizeram planos para nós, eu o Sertão fizemos planos para vocês. Desde que soubemos que vocês viriam, planejamos levar um de vocês a pescar no Urucuiá bem nas margens do barqueiro. Que bom que era o Dotor que estava no boteco naquela tardinha.
Eu estava na janela com o olhar esbugalhado quando o Sertão gritou para mim já de longe.
-A segunda coisa, é que nem todo o Sertão tem Amargo, eu tenho.
Sentei no banco porque a poeira que o ônibus levantava não me deixava ver ou ouvir mais nada para traz. Disse para mim mesmo: Safados, são pai e filho. Nunca mais encontrei o Amargo e o Sertão, mas eles viveram para sempre no meu coração.

Ж


Dizem que às vezes a gente faz um plano e Deus faz outro. Por sorte passei num concurso no CNPQ (conselho nacional de pesquisas químicas) este concurso me dava uma bolsa de estudos na minha cidade natal em Porto Alegre, fui para lá.
Na década de setenta era difícil e caro comunicar-se a distância, mas mesmo assim mantive correspondência e contatos telefônicos com ex-colegas. Soube que a Beloni fora adotada como filha por uma família e estava se alfabetizando numa escola pública. Os contatos foram se esmiuçando, mas oito anos depois ainda fiquei sabendo que a Beloni havia terminado o primeiro grau. Então a ponte caiu e eu nunca mais soube nenhuma notícia. O Projeto Rondon foi extinto e toda aquela gente desapareceu no vazio do tempo.
Eu me formei e arrumei emprego numa empresa de telefonia. Se pudéssemos converter nosso tempo numa árvore, poderíamos assistir o seu crescimento, o meu tempo teria um tronco muito grosso, pois a seiva da vida me alimentara por mais de sessenta anos. Meus cabelos já estavam na cor da última estação, e eu havia crescido muito na minha especialidade.
A pouco tempo atrás, atendendo a um convite de uma faculdade, fui para um evento onde iria proferir uma palestra para alunos formandos de engenharia. Lá estariam também outros profissionais apresentando temas selecionados.
No saguão na frente do anfiteatro, pessoas se reuniam antes do horário conversando alto e trocando idéias sobre o evento. Foi quando eu percebi que uma senhora tinha os olhos fixos em mim. Fiz uma menção de cumprimento com a cabeça e ela nem piscou, apenas me olhava. Resolvi ignorá-la.
Minha palestra versava sobre o relacionamento do engenheiro com o mundo em sua volta, dizia eu na palestra:
-As leis físicas que sustentam os fenômenos que nós compreendemos, estão organizadas no baú dos nossos conhecimentos em modelos que apesar de não existirem, comportam-se exatamente como o fenômeno. Damos explicações racionais para a femenologia que nos cerca. Nossos artifícios de pensamento assim como a matemática e a lógica satisfazem tão bem o fenômeno que dizemos que o compreendemos. Porem, isso tudo se passa só no nosso mundo racional. Muitas vezes as nossas emoções não acompanham a compreensão, sentimos diferente do que compreendemos.
Na segunda fileira da frente, vi a senhora que continuava me olhando como se eu fosse as Cataratas de Iguaçú. Continuei.
-Nossos sentidos herdaram a bagagem genética do passado, o convívio com o fantástico nos acompanha desde a nossa pré-história. Hoje quando estamos em frente a um fenômeno que compreendemos suas causas, não conseguimos nos livrar da sensação de maravilha. Um navio de aço, com três mil pessoas á bordo, boiando serenamente nas águas de um porto, traz para quem está no cais, um desconforto de sentimento. Sabemos desde Arquimedes que o peso do volume de água deslocado pelo navio exige que o navio bóie. Compreendemos isso, sabemos calcular, pesar e medir. O que não sabemos ainda é sentir a liberdade da verdade física do fenômeno. O navio de aço boiando nos desconcerta.
Nisso o braço da senhora do olhar penetrante levantou-se no ar como se quisesse me dar a mão, mas queria apenas fazer um aparte. Quando o fez, notei seu jeito meigo e encantador de falar.
-Dotor, o senhor está nos dizendo que os nossos sentimentos podem não ter raiz na razão ou que a nossa razão independe do que sentimos?
-Não, penso que estes nossos dois hemisférios são dentro de nós como o Norte e o Sul de um imã. Um não existe sem o outro. Porem, nós engenheiros estamos imerso no forte campo de um pólo. Estou dizendo aqui que nunca, nem por um instante na profissão que vocês exercerão, devem aceitar as coisas racionais como a única resposta. Outros caminhos sempre existirão.

-Obrigado professor.
Por educação ou por apreço, quando terminei a palestra fui muito aplaudido. Fui sentar na cadeira da mesa onde deveria ouvir o próximo palestrante. Com o microfone na mão, o dirigente do evento anunciava a personalidade que falaria.
-Temos o prazer agora de convidar a professora coordenadora do curso de Assistência Social desta Universidade para proferir sua palestra “Os Caminhos da Vida”.
Enquanto o apresentador lia o extenso currículo de especialização da palestrante, a senhora do olhar profundo e gestos meigos, levantou-se graciosamente e começou a dirigir-se para frente da platéia. Chegando lá, o apresentador falou:
Agora com vocês a Dra. Beloni Jacarandá de Espinhos.
Beloni agradeceu as palmas, passou a mão delicadamente do cabelo que caia na testa e começou assim:
-Muitas vezes o melhor caminho é aquele que não conseguimos enxergar. Dito isso olhou com seu olhar mais doce para mim na platéia e sem que ninguém entendesse porque fez seu discurso de uma só palavra:
-Obrigado.



FIM

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